
Uma tendência cada vez mais presente no mundo dos negócios são as pessoas que decidem empreender sozinhas. Em Caxias do Sul, o número dos microempreendedores individuais (MEIs), conforme dado da Secretaria Municipal do Turismo e Desenvolvimento Econômico, já é mais da metade de todas empresas locais. São 40.741 MEIs em um universo de 79.756 empresas. Ou seja, representa 51,1% dos empreendimentos. No Estado, cenário parecido é visto nos chamados empreendimento em estágio inicial, que são aqueles com menos de três anos e meio de atividade. Segundo a Pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) da Associação Nacional de Estudos e Pesquisas em Empreendedorismo (Anegepe), 45% desses negócios são solos.
Em Caxias, o secretário adjunto do Turismo e Desenvolvimento Econômico, Silvio Tieppo, percebe que o número expressivo de empreendedores individuais é ligado especialmente ao sonho de mudar de vida com um negócio próprio. A pasta presta auxílio a negócios locais a partir da Sala do Empreendedor.
— É o sonho de transformação, de empoderamento, de ser o próprio patrão. Essa é a linha que ouvimos ali — afirma Tieppo.
Um novo caminho
Quem transformou a vida por meio do empreendedorismo foi Natália Neves, 35 anos. Entre 2018 e 2019, Natália decidiu deixar o Direito, profissão da qual atuava há mais de uma década, e decidiu tomar um caminho diferente. Foi quando a empreendedora conheceu as Práticas Integrativas e Complementares em Saúde, que tratam sobre abordagens terapêuticas, e ou a fazer cursos na área. A partir dali, em uma imersão nesse universo, ela descobriu mais uma oportunidade: a de trabalhar com a produção de produtos naturais terapêuticos, a partir de óleos essenciais.
— Nesse período, eu comecei a atender como terapeuta. E aí, começou a surgir a necessidade de ajudar as pessoas a relaxarem. Eu percebi que as pessoas vinham muito ansiosas para o atendimento. Não conseguiam relaxar, ficavam mais estressadas e eu pensei, o que eu poderia buscar para auxiliar? Foi, então, que eu conheci os óleos essenciais — relembra a empreendedora.
Junto das abordagens terapêuticas, como a aromaterapia, Natália, então, iniciou a produção de marca própria de produtos naturais com sprays e roll-on. A ideia também trouxe mais investimentos na qualificação, como cursos de botânica natural, de cosmetologia natural. A veia empreendedora, então, surgiu com a linha de produtos, que hoje chega a 60, e que variam de valores entre R$ 25 a R$ 68, como as velas aromáticas. A oportunidade surgiu a partir da escolha do novo caminho:
— É um movimento muito grande. E estou num momento diferente agora também. Vai fazer cinco anos, então, que eu tenho a marca. E aí, decidi fazer toda uma nova reestruturação e readaptar os produtos também para daqui a pouco vender e expandir isso. É um trabalho que eu vejo que tem muito propósito.
Além da venda para o consumidor final, Natália também revende em lojas de produtos naturais e participa de feiras. Natália atua sozinha, cuidando de todo negócio, como produção, divulgação, vendas e logística.

Um o a mais
A realidade do "eupreendedorismo" se repete em outras histórias. É o caso de Roseli Barbosa, 50, que brinca que possui uma "eugência" de marketing. Antes de entrar nesse universo, ela atuou por cerca de 30 anos na parte comercial de veículos de comunicação. Um acidente em 2023 fez com que Roseli iniciasse o próprio negócio. Ao sair de um carro, ela quebrou a perna. Obrigada a ficar em casa, começou a pesquisar e estudar sobre tráfego pago e marketing digital. Com a rede de contatos formada pela antiga profissão, o novo negócio se iniciou. Após um ano de estudos, Roseli abriu a Conecty33 Mkt Digital em maio de 2024.
— Tanto tempo atendendo pessoas, lidando com pessoas, a gente cria um bom relacionamento. E quando eu comentava que eu estava estudando, que estava começando, as pessoas falavam, faz para mim, eu quero — conta Roseli.
Além do trabalho com o marketing digital, Roseli também dá aulas sobre tráfego pago e serviços do Google que podem auxiliar empresas na presença online. Um dos públicos da especialista é justamente os microempreendedores. No caso da empreendedora, tudo começou com um notebook e um celular. Hoje, com clientes fixos e recebendo novos pedidos, ela acredita que é a hora de dar o próximo o. Até para isso, buscará também consultoria para orientações de como, por exemplo, fazer a contratação de um colaborador.
— A minha estrutura hoje está pedindo para a gente dar um o a mais. Então, comecei me especializando e também fazendo alguns investimentos, como em equipamento. Mas, já estamos vendo de, até inclusive no Sebrae, uma agenda para eles darem uma assessoria, uma consultoria de como eu posso pegar e estruturar um negócio agora de uma forma já com um espaço físico e contratar pelo menos uma pessoa — conta Roseli.
Também em uma rotina apertada, Roseli se desdobra em atender os clientes e continuar estudando. Segundo a empreendedora, são pelo menos cinco horas por dia para os estudos.
Experiências com o empreendedorismo
Aprender sobre o gerenciamento, a burocracia e os cuidados financeiros também está presente na vida dos empreendedores, independentemente do ramo. Assim como as outras empreendedoras, a massoterapeuta Renata Lagunaz, 32, aprendeu sobre esses pilares com a experiência. Antes de atuar na área do bem-estar, Renata teve um ateliê de costura com a mãe, Marilda Fiorese, 62, por quatro anos. Por um problema de saúde da mãe, o negócio teve que ser interrompido em 2022. Por um período breve, a massoterapeuta chegou a voltar ao CLT. Mas, logo descobriu a nova profissão com a oportunidade de fazer um curso. A experiência anterior foi útil para a nova jornada.
— Eu fiz cursos, tanto online quanto tirando dúvidas. Isso ainda no outro empreendedorismo que eu tinha no ateliê. Então, trouxe essa bagagem para cá, mas agora é outra área, é a saúde, é onde precisa desenvolver um monte de anamnese, entender sobre o corpo, pedir para a pessoa ter outra abordagem. Mas, com certeza, eu fui fazer mais cursos sobre conseguir me comunicar com esse tipo de pessoa e também entender como que é uma abordagem para ela — relata Renata.
Renata trabalha exclusivamente para o público feminino, atendendo em dois espaços diferentes, um no Centro e outro no bairro Cruzeiro, com serviços como massagem relaxante, massagem terapêutica e a drenagem linfática. Ela também oferece combos, que incluem técnicas como o reiki. O atendimento dura uma hora, com investimento de R$ 115. Na mudança de carreira, a massoterapeuta acredita que encontrou o que procurava na vida profissional:
— Me imagino por um longo período, mas acredito que mais focada, com cada vez mais os objetivos. Por exemplo, hoje eu já viso uma fisioterapia. Com certeza, para trazer mais toda essa parte anatômica, que é extremamente importante e para poder ser mais assertiva com as clientes sempre. Mas, sim, pretendo seguir. Eu acho, não, eu sinto que eu encontrei um propósito.
Para quem está começando a empreender, Renata também deixa um recado importante - acreditar sempre em si:
— Nós temos que se acreditar todos os dias no empreendedorismo.
Cuidados a tomar
O empresário e especialista em mudança comportamental, Italo Rickes, percebe alguns cuidados que devem ser tomados pelos "eupreendedores". Rickes estará em Caxias, em 11 de junho, para consultoria a empresários, em uma imersão que ocorre na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias - com custo de R$ 57 por pessoa. Um dos cuidados mencionados é justamente a situação de manter-se sozinho por muito tempo e não saber a hora de dar o próximo o. Rickes nota que muitas empresas individuais fecham por esse motivo, como apontam pesquisas:
— O empresário fica preso no atendimento, preso num operacional, e ele não consegue olhar uma estratégia, pensar a longo prazo, entender o fluxo dele, saber para onde a empresa dele vai ir, e ele acaba ficando preso num negócio que ele acaba se tornando funcionário do próprio negócio, sem ter uma certa liberdade de olhar a estratégia dele.
Rickes esclarece que o problema não é ser sozinho no negócio, mas sim saber até que momento ficar nesta condição. Outra situação é a de, por vezes, não notar outras camadas do negócio.
— Ela acaba focando numa questão que é uma consequência, que não é que não tem que estar olhando, mas ela é uma consequência, que é vender, vender, vender, vender, vender. Ok, o problema é que muitas vezes vendemos errado, fazemos o dinheiro girar e tu não olha teu lucro, tua margem, o que o teu produto está agregando de valor para o teu cliente, por que o teu cliente está indo comprar de ti, como que tu vai gerar um senso de comunidade dentro do teu negócio, e aqui quando eu falo um senso de comunidade não é necessariamente algo enorme, um pequeno negócio pode ter um senso de comunidade também para ele — aconselha Rickes.
Um indicativo que também pode ser analisado pelos empreendedores é o tempo em que eles estão ocupando em uma das áreas do negócio. Rickes cita como exemplo que o ideal seria o empresário conseguir ter um tempo diário para avaliar a estratégia da empresa e analisar qual o caminho ela deve seguir. Conforme a empresa for avançando, o empreendedor pode, aos poucos, reduzir o tempo na produção e aumentar a foco na gestão e estratégia.