Causas dos números do Brasil

De acordo com o Ministério da Saúde, além da maior oferta de exames, sobretudo em gestantes, há ainda outros fatores que colaboram para o aumento de casos.

— Existe avanço da doença, o que nos preocupa, e esse aumento está relacionado tanto a maior capacidade de detecção quanto à redução de medidas preventivas — afirma o secretário de Vigilância em Saúde da pasta, Wanderson Oliveira.

A principal, diz ele, é a redução no uso de camisinha, em um contexto em que as pessoas têm mais parceiros sexuais.

Ainda de acordo com o secretário, problemas no abastecimento de penicilina nos últimos anos também colaboraram para dar impulso à doença em diferentes países. No Brasil, diz ele, o estoque foi regularizado após a retomada da oferta por fabricantes.

Ele ite, porém, que ainda há entraves na assistência.

— Temos visto lugares que definem horário e dia para fazer o teste ou tratamento. Isso acaba gerando dificuldade de o — afirma Oliveira. — Também vemos resistência de muitos profissionais em aplicar a penicilina (benzetacil) na unidade de saúde, por medo de reação.

Segundo ele, a pasta analisa medidas para orientar postos sobre o tratamento e ampliar a oferta de testes de sífilis em diferentes momentos de atendimento na rede de saúde.

Causada por uma bactéria, a sífilis é uma doença silenciosa e que tem diferentes fases.

No estágio inicial, pacientes apresentam pequenas feridas nos órgãos sexuais e caroços nas virilhas, que não doem nem ardem e desaparecem semanas depois, dando falsa impressão de cura.

Em seguida, após uma segunda fase, a doença pode ficar dormente por vários anos, o que dificulta o diagnóstico, até voltar de forma mais grave.

— Queremos que, se alguém chegar em uma unidade de pronto atendimento (UPA) com o pé quebrado, por exemplo, já haja para essa pessoa também a oferta do teste de sífilis.

Especialistas, porém, defendem que sejam discutidas também outras ações.

Para os, da UFF, o alto número de casos de sífilis congênita - transmitidos de mãe para filho - indica que há falhas na rede de saúde em identificar e tratar a doença em tempo oportuno.

Um exemplo é que, de 26 mil casos de transmissão congênita registrados em 2018, 82% são de bebês cujas mães aram pelo pré-natal, momento em que são indicados testes de sífilis. 

— Se a maioria fez pré-natal e o bebê teve a doença, que pré-natal foi esse? — questiona os.

Dados de boletim recente do Ministério da Saúde dão sinais desse problema.

Sífilis congênita

Em 2018, do total de casos de sífilis congênita, 55,1% são de bebês cujas mães aram por esquema de tratamento classificado como "inadequado", quando houve recebimento de ampolas abaixo do necessário ou início do tratamento menos de um mês antes do parto, por exemplo.

Outras 26,4% não tiveram tratamento; 13,4% não tiveram os dados informados e só 5,1% receberam tratamento registrado como "adequado".

Segundo Oliveira, do ministério, a falta de um tratamento vinculado ao parceiro faz com que a gestante seja frequentemente reinfectada pela doença.

Uma série de reuniões com especialistas para definir estratégias contra sífilis congênita está programada para este mês. Entre as propostas, está estimular a realização de pré-natal em parceria, o que estimularia testes também aos homens.

Na semana ada, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, defendeu que sejam discutidas medidas mais efetivas em relação a parceiros que recusem o tratamento.

Bicudo, da SBI, cita tentativas anteriores de parte da rede de saúde de "busca ativa" do parceiro em casa para tratamento. Para ela, é preciso aumentar a conscientização sobre a doença.

— Falamos pouco de sífilis. É uma doença que pode causar sequelas graves se não tratada, principalmente na sífilis congênita — afirma.

O Ministério da Saúde lançou uma campanha para estimular o uso da camisinha entre jovens como forma de evitar essa e outras infecções.

Sobre a doença

O que é a sífilis

Infecção sexualmente transmissível causada pela bactéria Treponema pallidum

Como é transmitida

Por relações sexuais desprotegidas com pessoas infectadas ou da mãe para o bebê, durante gestação ou parto

Sintomas

Considerada uma doença silenciosa, tem diferentes estágios (primária, secundária, latente e terciária). Seus sintomas podem aparecer e desaparecer, e a doença ficar latente no organismo

Fases

Na fase primária, ferida nos órgãos genitais que não dói, não coça e não arde, e que pode ser acompanhada de caroços na virilha. Na fase secundária, podem ocorrer manchas no corpo, incluindo nas palmas das mãos e plantas dos pés, além de febre, dor de cabeça, mal-estar e ínguas pelo corpo. Em seguida, a doença pode ficar um longo período sem sintomas. Na fase terciária, podem ocorrer complicações graves, como cegueira, paralisia, doença cardíaca, lesões neurológicas. Se não tratada, pode levar à morte

Diagnóstico e tratamento

Por meio de teste rápido, disponível no SUS. Já o tratamento é feito com penicilina, cujo esquema de istração varia conforme o estágio da doença

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