Preços altos reduziriam consumo

As respostas obtidas na pesquisa Datafolha de que preços mais altos ajudariam na redução do consumo vão ao encontro de evidências científicas, segundo Johns.

Um estudo publicado no ano ado na revista científica Lancet analisou dados de 13 países quanto aos efeitos de impostos sobre doenças crônicas não transmissíveis (como problemas cardiovasculares e diabetes).

A pesquisa concluiu que sobretaxar alimentos não saudáveis, bebidas açucaradas e alcoólicas, e tabaco podem resultar em benefícios para a população, especialmente para as pessoas que têm menor renda —que são também as mais afetadas por problemas como a obesidade.

Segundo a pesquisa Datafolha, 61% dos brasileiros são a favor de aumentar a tributação sobre bebidas não saudáveis.

No Reino Unido, entrou em vigor no ano ado uma taxa sobre bebidas açucaradas com mais de 5 g de açúcar por 100 ml, o que causou movimentação desse setor da indústria para alteração de fórmulas.

Em 2018, a Coca-Cola ameaçou deixar o país após redução de benefícios fiscais dos quais goza. O então presidente Michel Temer cedeu à pressão e restituiu o benefício. O presidente Jair Bolsonaro, em julho, aumentou o benefício fiscal para a indústria de refrigerantes.

A Receita Federal tem autuado indústria do setor de refrigerantes e outras bebidas açucaradas por, segundo o órgão, sobrevalorizar preços para aumentar o benefício fiscal.

Conscientização tem aumentado

Johns diz que, considerando as pesquisas feitas sobre o assunto, como as Datafolha, a conscientização sobre alimentos não saudáveis tem aumentado. 

—A aceitação é muito grande para políticas regulatórias que vão modificar o ambiente e ajudar a fazer escolhas melhores. Não dá para colocar só nas costas do indivíduo a questão da escolha melhor quando ele está em um ambiente totalmente desfavorável ou inviável de optar por uma boa alternativa.

Em 17 de outubro, nutricionistas e ONGs estiveram em audiência pública na Câmara dos Deputados, na Comissão de Seguridade Social e Família, para pedir a aprovação de um projeto de lei, apresentado há 12 anos, que proíbe a venda de refrigerantes em escolas de educação básica.

A pesquisa encomendada pela ACT mostra que 77% dos brasileiros são contra a venda de bebidas açucaradas em escolas.

Procurada pela reportagem, a Abia questiona a forma como o estudo foi construído. "A referida pesquisa assume a existência de alimentos 'não saudáveis', enquanto defendemos que a saudabilidade está nas dietas —que podem ser equilibradas ou não—, e não em um alimento isoladamente. Além disso, a forma de construção das questões parece querer direcionar o respondente a concordar com o argumento apresentado."

A associação também diz que as medidas apontadas na pesquisa não possuem "respaldo técnico-científico" e, "com base em experiências internacionais, a implementação de tais restrições não apresenta resultados efetivos nas escolhas do consumidor ou mesmo nos índices de obesidade".

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