Esta série de editoriais contempla temas apontados como prioridade para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul por entidades da indústria, do comércio, do agronegócio e pelas bancadas estadual e federal de deputados em reuniões com o Conselho Editorial do Grupo RBS. Os temas abordados serão:
• Fundo constitucional do Sul
• Formação profissional e recuperação da Educação Básica
• Falta de mão de obra e impacto de benefícios sociais
• Inovação e expansão de centros de tecnologia
• Infraestrutura logística e contenção de cheias
• Valorização e consumo dos produtos gaúchos
• Relevância do agronegócio
• Bancada federal no Congresso
No campo ou na cidade, a realidade é a mesma. Sobram vagas abertas e falta mão de obra para preenchê-las. A escassez de trabalhadores se configura como um dos principais fatores a travar o crescimento do Rio Grande do Sul. Ao cabo, limita a capacidade de produzir, de fechar negócios e de atender clientes. É um desafio de enfrentamento prioritário no Estado.
Impõe-se a revisão periódica dos cadastros do Bolsa Família para beneficiar quem realmente precisa, e não aptos a labutar
O mercado de trabalho apertado é causado por um encadeamento de fatores. O desemprego está em níveis historicamente baixos no Estado. Em 2024, fechou em 5,2%, acima apenas de 2013 (5%) na atual série do IBGE. Apesar da onda de demissões após a enchente, o ano se encerrou com saldo positivo de 63,5 mil vagas com carteira assinada. Há ainda a redução da entrada de jovens no mercado de trabalho pelo fator demográfico. O Estado padece de uma histórica evasão de população para outras unidades da federação.
Mas há a influência de outros elementos, como os programas sociais. Não se discutem os méritos do Bolsa Família, que tirou milhões de brasileiros da miséria. Mas se impõe a revisão periódica dos cadastros para beneficiar quem realmente precisa, e não adultos jovens e saudáveis aptos a labutar.
Entre dezembro de 2021 e março deste ano, a quantidade de famílias no programa no RS ou de 397 mil para 615 mil. Dessas, 115 mil são unipessoais, grupo que explodiu nos últimos anos por força de fraudes. É tarefa municipal e federal revisar com rigor a lista de favorecidos, liberando força de trabalho para a economia. Em março o governo alterou regras, e a inclusão e a atualização cadastral desse público devem ser com entrevista domiciliar. É plausível que sejam encontradas quantidades significativas de irregularidades e de cidadãos capazes. O excesso de condescendência no Bolsa Família afeta o mercado de trabalho, mostram pesquisas de economistas do Banco Central e da Fundação Getulio Vargas.
A revisão dos cadastros, porém, é só parte da equação. É necessário buscar saídas estruturais. Elevar a produtividade do trabalho, estagnada há três décadas no país, é essencial. Um brasileiro, em média, leva uma hora para produzir o que um norte-americano faz em 15 minutos. É algo que depende do nível educacional, mas também da tecnologia incorporada nas atividades. No curto prazo, a automação se torna um caminho incontornável.
Mas existem tarefas que necessitam da mão humana. Há alternativas como incentivar a vinda de imigrantes e treiná-los, uma realidade em vários setores da indústria. São necessárias iniciativas criativas, como o projeto-piloto da fabricante de ônibus Comil, de Erechim, em parceria com a ONU, para trazer deportados dos EUA. Outro exemplo meritório próximo de se materializar é o programa da Fiergs para capacitar jovens do serviço militar obrigatório. a a ser necessário, também, reciclar trabalhadores mais maduros. A solução para a escassez de mão de obra é complexa e exige ações conjuntas entre empresas, entidades e poder público.