A condição de um dos principais exportadores de alimentos do mundo exige que o Brasil tenha um sistema de vigilância e de defesa agropecuária exemplar e preste informações com plena transparência aos importadores. A robustez da estrutura de sanidade, voltada a proteger criações e lavouras e a conter e debelar com efetividade focos de doenças com reflexo comercial, aliada à confiança dos clientes, gera uma credibilidade que tende a permitir que o país avance nas negociações para regionalizar a limitação de vendas externas em caso de episódios de enfermidades. É uma estratégia necessária para diminuir a extensão e os prejuízos dos embargos.
É essencial não baixar a guarda dos sistemas de vigilância e defesa agropecuária e ampliar os investimentos com a ajuda privada
O tema voltou à tona com o surgimento da gripe aviária em Montenegro, no Vale do Caí, o primeiro em um criatório comercial no país. Nações como Japão e Singapura têm protocolos com o Brasil que preveem fechar exportações apenas para o produto de propriedades em um raio de 10 quilômetros do foco. Há casos em que o embargo se limita ao município e ao Estado. Mas existem outros mercados, como União Europeia e China, em que os acordos vigentes levam à paralisação das exportações de todo o país, um exagero levando-se em conta o tamanho do território nacional. Autoridades diplomáticas brasileiras dialogam com os chineses para avançar na regionalização.
As defesas agropecuárias federal e de Estados como o Rio Grande do Sul já vêm demonstrando competência, a partir do aprendizado das últimas décadas e de investimentos na área. A parceria com o setor privado fortalece o sistema, assim como a adesão dos criatórios às medidas de biossegurança. Diante da dispersão da gripe aviária pelo mundo, era questão de tempo para a doença aparecer em uma granja comercial no Brasil. O trabalho de vigilância, nos últimos anos, havia conseguido até agora impedir que o vírus detectado em aves silvestres chegasse a propriedades vinculadas à cadeia da avicultura.
Casos recentes comprovam a capacidade do sistema de sanidade animal e de seus profissionais. No dia 17 de julho do ano ado foi confirmado um foco da doença de Newcastle em Anta Gorda, no Vale do Taquari. Após um intenso trabalho para evitar o alastramento do vírus, o país oficializou, apenas oito dias depois, que o episódio estava encerrado. Os esforços se repetem agora, com uma minuciosa vistoria a propriedades próximas e instalação de barreiras de desinfecção, entre outras medidas.
O Brasil é o maior exportador de carne de frango, assim como lidera no ramo bovino. Nas aves, o RS é um dos três Estados que mais embarcam. A condição também torna o país alvo de medidas protecionistas, muitas vezes disfarçadas de salvaguardas sanitárias. Para diminuir esses riscos, é essencial não baixar a guarda dos sistemas de vigilância e de defesa e ampliar os investimentos também com a ajuda privada, como existe no Estado, com o Fundesa, fundo ligado à avicultura, à suinocultura e às pecuárias de corte e de leite. Trata-se de uma atenção imprescindível para manter o crescimento de setores cada vez mais relevantes da economia nacional e, ao mesmo tempo, dar garantias de abastecimento interno e assegurar a qualidade do alimento consumido pelos brasileiros.