No prontuário, a metadona é citada como causa provável de parada cardiorrespiratória na criança de um ano. Clovis Prates / HA
A Polícia Civil deu início na terça-feira (3) a investigação das circunstâncias que levaram bebê de um ano a entrar em coma durante atendimento no Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HA).
Segundo a família, o quadro clínico foi motivado por uma dose de metadona 10 vezes superior à prescrita pela equipe médica. O medicamento é usado para controlar a dor e sedar pacientes.
O hospital diz apurar o caso e assegura ter afastado profissionais envolvidos no episódio (leia a nota abaixo).
A situação ocorreu no início de maio e foi registrada pela família da criança na Polícia Civil. A mãe e o bebê moram em Capão da Canoa, no Litoral Norte.
— A investigação se encontra em fase inicial. Já estão agendados depoimentos de testemunhas para o dia de hoje (quarta-feira) e, em seguida, as demais diligências investigativas que se fizerem necessárias para elucidação do fato — comenta Alice Fernandes, delegada da 3ª Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Porto Alegre.
Segundo ela, ainda não há um prazo para a conclusão do inquérito.
— Isso vai depender de todas as diligências. Quantos às perícias, aguardamos o o ao prontuário para acionarmos o IGP (Instituto-Geral de Perícias). Devido à gravidade do fato, é nossa prioridade no momento — assegura.
Nesta quarta-feira (4), a criança segue internada em coma no Hospital de Clínicas.
Segundo a família, o bebê estava internado para a realização de duas cirurgias devido a problemas no sistema digestivo. O prontuário médico da criança indica que, em 7 de maio, dois dias após as operações, houve a prescrição de metadona 0,1 mg de seis em seis horas.
Ainda no mesmo dia, a dose do medicamento aumentou para 0,8 mg. Naquela noite, por volta das 23h15min, a mãe do bebê notou que ele estava “roxo” e sem respirar. Teriam sido oito minutos até reanimarem. Logo após, o menino foi entubado.
— Eu estava olhando para ele, estava sentindo uma coisa estranha. Até que ele virou de bruços, com a cara reta no travesseiro. Achei estranho e quando virei já vi o braço mole — afirmou ao g1 a mãe da criança.
No dia seguinte, a equipe verificou que o bebê teria sido submetido a uma dosagem 10 vezes superior ao que estava prescrito.
Desde então, o menino está em coma. No prontuário, a metadona é citada como causa provável de parada cardiorrespiratória em múltiplas evoluções médicas e neurológicas.
Antes dessas cirurgias, ele já havia realizado outros seis procedimentos, todos no Hospital de Clínicas.
A família levou o caso até a ouvidoria da instituição. Em reunião com os familiares, a equipe médica itiu que há um prejuízo na função cerebral dele em decorrência do uso do medicamento, segundo relato da mãe.
O hospital confirma que há profissionais que foram afastados após o caso, mas não detalha quem são eles.
O Hospital de Clínicas de Porto Alegre confirma que ocorreu um evento grave durante o atendimento de uma criança internada na instituição, provavelmente relacionado à istração de medicação analgésica no cuidado pós-operatório.
Desde o primeiro momento, o Clínicas vem mantendo sucessivos e transparentes contatos com a família e lamenta profundamente o ocorrido. Temos prestado acompanhamento integral ao paciente, à família e às equipes assistenciais, oferecendo atendimento multidisciplinar com e médico, psicológico e de outras áreas.
O caso está sendo apurado com profundidade dentro dos fluxos institucionais, para se entender a cadeia de eventos, com foco na melhoria contínua de processos e protocolos. O hospital reforça seu compromisso com a segurança e com a qualidade da assistência prestada na instituição e informa que, com a análise deste fato, já estão sendo adotadas medidas preventivas e corretivas