A história da redatora e roteirista Gislene Dias, 40 anos, é semelhante à de muitas pessoas que acabam entrando numa espiral de dívidas sem fim. Morando com os pais em um sítio de Arroio do Meio, no Vale do Taquari, ela leva uma vida estável e segura, bem diferente da situação de 13 anos atrás.
— Perdi o controle no momento em que fiz o segundo consignado para tentar tapar os furos do primeiro. Assim segui: utilizando o cartão de crédito e o limite bancário sem encontrar outra forma para resolver o problema. Eu não colocava as contas na ponta do lápis, agia por impulso e ansiedade de resolver a bola de neve das dívidas — lembra.
A redatora conta ainda que os problemas começaram quando ela foi estudar e viver na Capital. Sem nunca ter lidado com finanças no Interior, a mudança para uma cidade grande exigiu uma série de obrigações. Endividada e abalada por conta da situação, os problemas aumentaram e começaram a impactar a vida de Gislene em outras áreas.
— Quem a por isso não consegue se desconectar, é uma sensação horrível. Eu não ia bem no trabalho, estava péssima na faculdade. O meu relacionamento acabou por eu estar com problemas financeiros — diz.
A situação pela qual a redatora ou não é isolada. No Rio Grande do Sul, segundo pesquisa da Fecomércio RS, 29,6% dos entrevistados com dívidas disseram que estavam “muito endividados”, enquanto outros 26,7% relataram “mais ou menos endividados”. “Pouco endividado” e “não têm dívidas desse tipo” somam 43,6%. Gislene destaca que um dos problemas para conseguir sair da inadimplência foi a rigidez da instituição bancária, que não estava aberta à negociação. A luz no fim do túnel foi por meio do site consumidor.gov.br, onde ela registrou o problema e conseguiu a intermediação de um acordo, resolvendo a situação depois de anos de sofrimento.
— A melhor coisa a fazer é parar, analisar o contexto e buscar soluções que não sejam novos empréstimos e cartões. Hoje temos várias instituições para resolver essas questões. Não gasto mais sem avaliar a real necessidade — afirma.
Quando oriento pessoas sobre finanças, tomo cuidado ao mandar anotar tudo. A primeira imagem na qual se pensa é uma planilha complicada de Excel, que automaticamente gera cansaço, angústia e preguiça. Então, eu explico onde eu, singelamente, anoto toda a istração das finanças da minha casa: em um caderno de papel. É desta forma que faço o controle das minhas contas desde que tinha 15 anos e arranjei um trabalho em uma loja após ter buscado meu boletim na escola e confirmar que estava de férias. Cada página é uma conta de banco, um investimento, controle do FGTS, entre outros. Quase três décadas de acompanhamento me permitiram atingir uma organização que não pretendo transportar para uma planilha digital. Vale para todos? Não! Pessoas que usam bem o Excel têm uma ótima ferramenta em mãos, que faz automaticamente vários cálculos que eu me acostumei a mão. Mais interessante ainda são alguns aplicativos intuitivos que chegam a agregar informações de mais de um familiar. Em todos, a matemática simples é rainha: tem que entrar mais dinheiro do que sai. Para isso, tem que cortar gasto e/ou aumentar renda, mesmo que temporariamente.