Talvez você tenha visto em seu feed, nas redes sociais, um dos vídeos viralizados em que a atriz Cate Blanchett, vencedora de dois Oscars, cita o trabalho de “Clarice Lispector, uma autora brasileira que é um gênio absoluto”, durante seu discurso de agradecimento no Festival de Cinema de San Sebastián, na Espanha, onde foi premiada pelo conjunto de sua obra.
A artista disse que, nestes tempos incertos, tem buscado coragem na escritora brasileira, que morreu na década de 1970, e citou um trecho da crônica Diálogo do Desconhecido, que diz:
[...] Tenho a meu favor tudo o que não sei e – por ser um campo virgem – está livre de preconceitos. Tudo o que não sei é a minha parte maior e melhor: é a minha largueza. É com ela que eu compreenderia tudo.
Essa menção é uma amostra de um movimento que tem sido observado recentemente: uma espécie de redescoberta de grandes autoras pelas redes sociais, e que faz com que obras escritas há décadas ou até mesmo há uma centena de anos continuem a ressoar, principalmente entre as leitoras.
A Hora da Estrela, publicado por Clarice em 1977, por exemplo, foi um dos 10 livros mais emprestados na Biblioteca Pública do Estado do Rio Grande do Sul (BPE) no ano ado.
Ana Maria de Souza, bibliotecária e diretora da BPE, avalia que a busca por essas escritoras está muito ligada à crescente necessidade das mulheres contemporâneas de se reconhecerem na literatura, que historicamente dá mais espaço para autores e narrativas masculinas:
— As mulheres são grandes leitoras, nas faixas etárias mais jovens, quem mais frequenta a biblioteca são meninas e mulheres. A geração feminina que nasceu nesse milênio já vem com uma outra consciência, já pensam sobre protagonismo feminino de uma maneira muito diferente da minha geração. Estão cientes de que "eu posso", "esse espaço é meu", e vêm aqui em busca de base. Elas buscam se reconhecer na escrita das autoras, porque, às vezes, o impacto do mundo para as mulheres de cem anos atrás é o mesmo que sentimos hoje.

Presença digital
Influenciadores literários, youtubers e booktokers – como são chamados os usuários que produzem conteúdo sobre literatura no TikTok, como resenhas, recomendações e discussões sobre livros – e clubes de leitura online têm dado espaço aos trabalhos de grandes nomes femininos, como Lygia Fagundes Telles, Sylvia Plath, Jane Austen, Virginia Woolf, Clarice Lispector, as irmãs Brontë, Louisa May Alcott e muitas outras.