
Margareth parou de menstruar aos 40 anos e, precocemente, começava ali uma jornada de transformação. Verônica teve menopausa aos 48 anos e só sentiu os primeiros sintomas, de forma leve, aos 53. Elenara, aos 72 anos, tem vivido uma rotina com muito mais qualidade do que antes do climatério, que teve início aos 49 anos. As três estão reunidas aqui como uma amostra do quão diferente pode ser a menopausa para cada mulher.
O que as histórias delas têm em comum comigo, com você e todas as mulheres é que, se tudo der certo, todas nós vamos ar por essa fase. Na década de 1960, a expectativa de vida do brasileiro girava em torno de 50 anos, época em que a menopausa é esperada. Atualmente, a expectativa de vida da mulher é de aproximadamente 80 anos. Do fim do período reprodutivo ao fim da vida são, portanto, cerca de 30 anos. Como você planeja vivê-los">
- Os fogachos são a principal queixa, mas o que mais leva pacientes ao seu consultório é a busca por um senso de identidade. São mulheres realizadoras e ativas que am a não se reconhecer mais.
- Pelo menos 1/3 das mulheres que procuram ajuda para seus sintomas recebem prescrições de antidepressivos. Isso é alarmante. O diagnóstico de depressão vem porque os sintomas são parecidos, mas o médico precisa levar em conta a queda dos níveis hormonais. Na maioria dos casos, aponta Sâmara, este tipo de medicamento não é uma boa solução para os problemas.
- Para a profssional, os três avanços na última década são: evidências de que a reposição hormonal traz mais benefícios do que prejuízos (desde que orientada e individualizada); reconhecimento de uma lista com dezenas de sintomas que vão muito além de fogachos ou perda de libido; e entendimento de que a baixa hormonal começa por volta dos 35 anos.
- Uma vez que a mulher fortalece sua mente e suas emoções, todo o resto fica mais fácil. É fundamental que ela se perceba para além dos sintomas. Ela é corpo, mente e espírito - esses três precisam estar alinhados. Quando bem abordada, a menopausa pode ser uma fase de grande crescimento.
3 posturas que agravam os problemas nessa fase
- Esperar para procurar ajuda ou se acostumar com os sintomas. Acontece quando a mulher não coloca o seu bem-estar como prioridade. Sofrer no climatério não é normal, não importa a intensidade dos sintomas nem a data da última menstruação.
- Acreditar que o envelhecimento “é assim mesmo”. A mulher deve ser proativa e procurar profissionais atualizados.
- Falta de autocompaixão, que precisa ser aprendida e praticada. Muitas vezes a mulher é a sua maior crítica, compara-se demais com as outras e até consigo mesma, na sua versão mais jovem. Abraçar esta nova fase com compaixão significa entender que ela faz parte da vida e decidir como quer atravessá-la fará toda a diferença.
Fonte: Sâmara Irumé, psicóloga e idealizadora do @diariomenopausa
Mitos e verdades
Sem calorões, não há climatério.
MITO. O fogacho acontece em 60% das mulheres, mas o conjunto de sintomas no processo é muito maior do que isso.
Não há chance de engravidar depois dos 40 anos.
MITO. Até a ausência da menstruação por pelo menos um ano, a fertilidade diminui mas não está ausente.
O corpo da mulher no climatério vai mudar.
VERDADE. Metabolismo desacelera, aumentando as chances de ganho de peso e ajustes na dieta são feitos.
A saúde dos ossos é prioridade.
VERDADE. Com a baixa nos níveis de estrogênio, a mulher tende a perder cálcio, e o risco de osteoporose aumenta. A intensidade disso vai depender do histórico de estilo de vida e se faz reposição ou não.
A mulher na menopausa não quer transar nem sente prazer sexual.
MITO. Sim, o corpo muda, os pensamentos mudam e isso pode impactar na sexualidade. É um período de transição, uma fase diferente, com particularidades, mas a capacidade de ter prazer se mantém por toda a vida da mulher. No climatério, tem tesão, sim. Se goza, sim.
Sintomas desconfortáveis só existem até a última menstruação, depois vão ar.
MITO. A mulher pode sentir sintomas ligados à menopausa até décadas depois de parar de menstruar. E pode ar anos sem sentir nada e depois começar a ter. Exemplo: menopausa aos 50 anos e sintomas com mais de 70.
O processo de envelhecimento se acelera.
VERDADE. E não só do ponto de vista estético, mas cardiovascular, metabólico, osteoarticular e muscular (perda de força).
Deve-se esperar 12 meses, confirmando o fim da menstruação em definitivo, para iniciar tratamento com reposição hormonal.
MITO. A menopausa é uma data, a da última menstruação. Os anos anteriores (cinco anos, aproximadamente) e posteriores (pode durar décadas) a esse momento compreendem a perimenopausa (climatério).
Fontes: ginecologistas Carolina Melendez e Joele Leripio
O que você precisa saber sobre:
Sexo/prazer
A libido baixa e os sintomas como a secura vaginal podem reduzir a disposição para o sexo. Adaptações precisam ser feitas. Vai ter lubrificação, vai ter excitação, vai ter orgasmo, mas o corpo responde de maneira diferente. O corpo não aceita uma relação sexual por obrigação, e isso faz repensar relacionamentos.
Autoestima
Pode ser resgatada independentemente de fazer reposição hormonal ou não. A baixa autoestima a muito pela falta de referências e inspirações. Não se pode estar com 50 anos e ter como referência e ideal uma mulher de 30. Quando se é jovem, há referência na carreira, para formar família e ser mãe. Depois dos 45 anos, isso acaba. Faltam modelos de inspiração, porque não se mostra a transição da menopausa nas mídias.
Nutrientes
A alimentação adequada é importante em qualquer idade. Dietas pobres, com muito produto alimentício e fast food, favorecem o aparecimento dos fogachos, da insônia e, claro, do ganho de peso. Uso de suplementos precisa de uma avaliação individualizada. Ao envelhecer, o intestino também vai perdendo a capacidade de absorção.
Reposição hormonal e câncer
Há 30 anos aproximadamente, a reposição era com hormônio sintético e num modelo padrão. Com o tempo, descobriu-se que reposição não é para todo mundo, nem pode ser a mesma para todas. O hormônio sintético tem melhores indicações e efeitos colaterais mínimos. A reposição é uma alternativa muito personalizada, precisa ser discutida com o médico de posse de uma série de informações. O hormônio isomolecular ou bioidêntico não aumenta o risco basal de câncer de mama.
Janela de oportunidade
Tempo no qual a mulher ficou sem hormônios e ainda é possível colocar de volta. Porque no pós-menopausa, na medida em que os anos am, o corpo vai gerando uma adaptação, em que os benefícios da reposição já não são tantos assim. A janela que a Sociedade Brasileira de Climatério e Menopausa aceita é de 10 anos.
Sintomas
Quanto mais a mulher é orientada, quanto mais ela busca se informar, menores são os impactos desconfortáveis. Boa parte do “tratamento” se baseia em mudanças no estilo de vida e na orientação personalizada. A mulher que sabe o que está acontecendo e que cuida de sua saúde tem bem menos sintomas do que aquelas que não estão nem física nem emocionalmente preparadas.
Relação conjugal
O homem também envelhece e tem declínio hormonal. Então, são duas pessoas ando por uma fase de mudança. O que precisa ser feito? Conversar, dialogar, compreender. Os homens precisam se informar a respeito do climatério para entender a mulher e o tratamento. Devem evitar dizer que é mimimi, que é “coisa da cabeça dela”. Se a mulher está sentindo algo, isso deve ser levado em consideração.
Fontes: ginecologistas Carolina Melendez e Joele Leripio

Para ler
Treze mulheres se abriram com a jornalista Mariza Tavares para ajudá-la a mostrar, junto com informações médicas, o que acontece com o corpo e a mente da mulher no climatério.
O resultado está em Menopausa: o Momento de Fazer as Escolhas Certas Para o Resto da Sua Vida, lançado no início de março pela editora Contexto (R$ 39,90). Desde 2016, Mariza mantém o blog Longevidade: Modo de Usar, no portal G1.