12 séries para começar e terminar no fim de semana
E eu gosto muito de dois educadores que não são protagonistas, mas desempenham um papel fundamental, como inspiradores ou aconselhadores. Um deles é o professor de ciências do seriado Stranger Things (2016-, disponível na Netflix). O senhor Clarke (interpretado por Rand Havens) está sempre incentivando os meninos a pensarem, e é ele que revela à turma como supostamente funcionam as outras dimensões e como á-las. O outro é Max Bruner (Woody Harrelson), que, a seu modo peculiar, acaba se tornando uma sábia companhia para a protagonista do filme Quase 18 (2016, em cartaz na Netflix), de Kell Fremon Craig, uma adolescente que se sente excluída de todos os grupos da escola: não se acha bonita nem é craque nos estudos ou no esporte.
Cruzando o Pacífico em direção à Ásia, chegamos ao Japão do comovente Madadayo (1993), de Akira Kurosawa, o professor é tão inesquecível que seus alunos reúnem-se todos os anos para comemorar seu aniversário e repetir um ritual de celebração à vida do velho mestre. Foi lançado em DVD no Brasil.
Ainda no continente asiático, vale destacar o empenho dos jovens professores itinerantes do filme iraniano O Quadro Negro (2000), de Samira Makhmalbaf, que na conflituada fronteira com o Iraque vão em busca dos alunos onde quer que eles estejam – com o quadro-negro nas costas. Também saiu em DVD.
Na Europa, a porta de entrada pode ser o seriado catalão Merlí (2015), que teve três temporadas, todas disponíveis na Netflix. Escrita por Eduard Cortés e dirigida por Héctor Losano, gira em torno de Merlí Bergeron (vivido por sc Orella), professor desempregado de filosofia que é literalmente jogado numa escola pública de Barcelona, a Àngel Guimerà, na qual tem de dar aula a alunos do Ensino Médio. O protagonista é um transgressor e um Don Juan, mas principalmente um docente apaixonado por sua matéria e convicto das virtudes do pensamento crítico, como escreveu a escritora e colunista Cíntia Moscovich: "Merlí incentiva seus estudantes a contestar, levando-os a crises dentro da escola e das famílias, mas também a experiências inevitáveis de crescimento".
Da Espanha, vamos para a vizinha França, país do inesquecível Entre os Muros da Escola (2008), presente no catálogo da Apple TV. Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, o filme dirigido por Laurent Cantet e estrelado por atores não profissionais, o filme se tornou um fenômeno de bilheteria e de debate. O roteiro é baseado na experiência do professor de Francês François Bégaudeau, que interpreta o protagonista. O ensino é o tema central, mas a sala de aula, como escreveu meu colega Daniel Feix, "é uma metáfora para a sociedade contemporânea como um todo". Os conflitos incluem a inadequação dos imigrantes, a formação problemática que os jovens trazem como herança da infância invariavelmente difícil, a falta de disciplina e respeito, a distância cultural entre professor e alunos e a incomunicabilidade resultante dessa equação.
Sementes Podres (2018) é outro filme francês que merece atenção. Em cartaz na Netflix, a comédia dramática é escrita, dirigida e protagonizada pelo franco-iraniano Kheiron. Seu papel é o do trapaceiro Wael, que vive aplicando golpes na companhia de Monique (a sempre charmosa Catherine Deneuve). Quando um desses golpes dá errado, Wael acaba incumbido de ser o mentor de adolescentes à beira de serem expulsos da escola. Entre risos e lágrimas, todos aprendem algo sobre si próprios.
O drama inglês O Despertar de Rita (1983), de Lewis Gilbert, retrata a relação entre um professor universitário desencantado e uma cabeleireira simplória determinada a completar sua educação. Concorreu aos Oscar de melhor ator (Michael Caine), atriz (Julie Walters) e roteiro adaptado e chegou a ser lançado em DVD por aqui.
Rita também é o nome de um seriado dinamarquês com quatro temporadas (entre 2012 e 2020) disponíveis na Netflix. Encarnada por Mille Dinesen, a personagem criada por Christian Torpe é professora de literatura de uma escola em sua cidade natal, no interior da Dinamarca. Rita é querida pelos alunos, a quem distribui honestidade, doçura e lições de humanismo, mas é vista como rebelde e fora do padrão por seus pares e coordenadoras. Contribui para isso sua vida pessoal: divorciada, ela tem relacionamentos amorosos tensos; como mãe, lida com uma menina disléxica, um rapaz que se descobre homossexual e o primogênito que ainda não sabe bem o que quer fazer.
Nossa volta ao mundo acaba com dois títulos do Brasil. Vencedor dos Kikitos de melhor filme, diretor (Carlos Reichenbach) e atriz (Betty Faria) no Festival de Gramado, Anjos do Arrabalde (1987) é sobre três professoras que enfrentam os problemas sociais da escola pública onde lecionam e tentam sobreviver à hostilidade da periferia paulista. Na esfera pessoal, precisam lidar com questões familiares e relacionamentos frustrados.
Também premiado em Gramado – melhor filme pela crítica, pelo público, trilha sonora e prêmio especial do júri –, o documentário Pro Dia Nascer Feliz (2005) nasceu de uma pergunta: como o adolescente brasileiro encara a vida escolar? A partir daí, o diretor João Jardim entrevistou alunos e professores de escolas públicas e particulares de três Estados – Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. O documentarista revela a complexidade das desigualdades sociais e da violência no país, mostrando precariedades, ansiedades, inseguranças e esperanças totalmente distintas. Pode ser visto no Looke.